terça-feira, 6 de junho de 2017

Geração de 45
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A Geração de 45 representou um grupo de literatos brasileiros da terceira geração modernista. Ela surge com a Revista Orfeu (1947) sendo explorada tanto na prosa quanto na poesia.

Contexto Histórico

A Segunda Guerra Mundial ocorreu entre 1939 a 1945. Portanto, a geração de 45 marca o início da Guerra Fria, da corrida armamentista, bem como o fim da segunda guerra e de muitos governos totalitários, do qual se destaca o nazismo alemão.
No Brasil, o período foi marcado pela redemocratização do país e pela Era Vargas (com Getúlio Vargas no poder), que mais tarde, seria marcada pela repressão e censura, com a terrível ditadura que avançava.
O movimento moderno das artes buscava, portanto, criticar a sociedade, ao mesmo tempo que se distanciava da arte simplesmente acadêmica, dando lugar ao folclore, aos regionalismos, múltiplos subjetivismos, dentre outros. Foi nesse contexto, que os escritores da terceira fase modernista produziram suas obras.

Resumo

O modernismo foi um movimento artístico e cultural que surgiu no século XIX, no entanto, no Brasil iniciou-se com a Semana de Arte Moderna, em 1922. Por ser um longo período o qual abriga diversos autores e estilos, o Modernismo no Brasil está dividido em três fases:
A Primeira Fase Modernista, conhecida como “fase heroica” começa em 1922 e vai até 1930. Foi marcada pelo radicalismo, inspirado nas vanguardas europeias. Nesse momento surgiram vários grupos modernistas: Pau-Brasil (1924-1925), Verde-amarelismo ou Escola da Anta (1916-1929), Manifesto Regionalista (1926) e Movimento Antropófago (1928-1929)
Na Segunda Fase Modernista (1930-1945), conhecida como “Fase de Consolidação” o movimento foi marcado pelo nacionalismo e regionalismo com predomínio da “prosa de ficção”.
A Geração de 45, no contexto da Terceira Fase Modernista (1945-1980), já inclui aspectos pós-modernos e por isso é também chamada de “Fase Pós-Moderna”, com rupturas entre a primeira e a segunda fase. Assim, fica claro, que a ideia inicial difundida pelos Modernistas de 22, vinha sofrendo mudanças com o passar dos tempos.
De tal modo, a geração de 45 reuniu artistas preocupados em buscar uma nova expressão literária, por meio da experimentação e inovações estéticas, temáticas e linguísticas.
A Geração de 45 representava uma arte mais preocupada com a palavra e a forma, no caso de João Cabral e Guimarães Rosa, ao mesmo tempo que explorava assuntos essencialmente humanos, como na obra de Lispector.
Tanto a prosa quanto a poesia foram exploradas nesse período, no entanto, de maneira mais intimista, regionalista e urbana. Além da poesia intimista, merece destaque a prosa urbana, a prosa intimista e a prosa regionalista.
Veja mais em: Modernismo no Brasil

Principais Autores e Obras

Dentre os principais autores do período, podemos citar Resultado de imagem para joão cabral de melo neto João Cabral de Melo Neto, com obras como “Morte e Vida Severina”. 


Resultado de imagem para clarice lispectorClarice Lispector, com “A Hora da Estrela”.


 Resultado de imagem para joão guimarães rosa João Guimarães Rosa, com “Grande Sertão : Veredas”.


   

 Além de outros autores como Ariano Suassuna, Lygia Fagundes Telles, e Mário Quintana. 
Resultado de imagem para ariano suassunaAriano Suassuna

Resultado de imagem para lygia fagundes tellesLygia Fagundes Telles


Resultado de imagem para mario quintanaMário Quintana
Modernismo em prosa
Já na prosa deparamos com duas distintas vertentes. Uma prosa de denso vasculhar psicológico em que se mergulha em busca de profundezas do ser, uma sondagem de envergadura nunca antes vista em nossa literatura, representada na obra de Clarice Lispector e de Lygia Fagundes Telles e outra de profunda reinvenção da linguagem, ambientada no espaço do Sertão, central na produção de Guimarães Rosa. 
Em Clarice especialmente, veremos ainda a eclosão de uma prosa poética que reinventa os limites da produção literária, em um exercício de linguagem riquíssimo: 
Sim, quero a palavra última que também é tão primeira que já se confunde com a parte intangível do real, ainda tenho medo de me afastar da lógica porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora marcada. Que mal porém tem eu me afastar da lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer me classificar: eu simplesmente escapulo não deixando, gênero não me pega mais. Estou em um estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo, tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo ou escrevê-lo.
Água Viva, 
Clarice Lispector (fragmento)
E há, com grande peso em nossa literatura, a produção de João Guimarães Rosa que é, possivelmente, o exercício de linguagem mais radical dessa geração de escritores, em uma profusão de reinvenção permanente da própria linguagem. Isso bem se vê no trecho abaixo exemplificado, intitulado Nós, os temulentos, parte de sua obra Tutameia (Terceiras estórias).
E, vai, uma árvore e ele esbarraram, ele pediu muitas desculpas. Sentou-se a um portal, e disse-se, ajuizado: melhor esperar que o cortejo todo acabe de passar...
E, adiante mais, outra esbarrada. Caiu: chão e chumbo. Outro próximo prestimou-se a tentar içá-lo. — Salve primeiro as mulheres e as crianças! — protestou o Chico. — Eu sei nadar...
E conseguiu quadrupedar-se, depois verticou-se, disposto a prosseguir pelo espaço o seu peso corporal. Daí, deu contra um poste. Pediu-lhe: — Pode largar meu braço, Guarda, que eu fico em pé sozinho ... Com susto, recuou, avançou de novo, e idem, ibidem, itidem, chocou-se; e ibibibidem. Foi às lágrimas: — Meu Deus, estou perdido numa floresta impenetrável!
[...]
E foi de ziguezague, veio de zaguezigue. Viram-no, à entrada de um edifício, todo curvabundo, tentabundo. - Como é que o senhor quer abrir a porta com um charuto? ... Então acho que fumei a chave...
E, hora depois, peru-de-fim-de-ano, pairava ali, chave no ar, na mão, constando-se de tranquilo terremoto. — Eu? Estou esperando a vez da minha casa passar, para poder abrir ... Meteram-no a dentro. 
E, forçando a porta do velho elevador, sem notar que a cabine se achava parada lá por cima, caiu no poço. Nada quebrou. Porém: — Raio de ascensorista! Tenho a certeza que disse: — Segundo andar! 
E, desistindo do elevador, embriagatinhava escada acima. Pode entrar no apartamento. A mulher esperava-o de rolo na mão. — Ah, querida! Fazendo uns pasteizinhos para mim? — o Chico se comoveu. 
Seu romance magistral, Grande Sertão: Veredas também se vale dessa característica, ambientado no Sertão, espaço, por excelência, de universalização do ser humano em sua obra.
A farta produção dramática também ambientada no espaço do Sertão é marcante ainda na produção de Ariano Suassuna.
Ainda na produção poética, temos Mário Quintana, muitas vezes tomado à parte dessa geração. O escritor tem em comum com os autores de 45, além da cronologia, a extrapolação da linguagem no fazer literário, muitas vezes, a partir de aparentes simplicidades.

Poeminha do Contra (Mário Quintana)
Todos estes que aí estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!